Em memória do Professor Manuel Pedro do Rio-Carvalho (1928-1994)
A pandemia de covid-19 tem provocado esforços profundos e transversais a todos os níveis, incluindo no ensino. Em situação de emergência, confinados às nossas casas, tivemos de exercer a profissão de uma nova forma e, no nosso caso, na segunda-feira 16 de Março, iniciámos um mundo novo: frente a computadores, passámos de aulas presenciais a aulas virtuais.
Com base na experiência destes três meses que agora se concretizam, podemos formular várias conclusões mas, desde logo duas se impõem: a primeira é que as ferramentas digitais são óptimas; a segunda é que o ensino à distância nunca substituirá o ensino presencial.
Numa aula virtual não existe presença física, o que modifica tudo em termos de relações humanas, tornando-as particularmente difíceis em alguns casos. Ensinar significa estar no centro da troca de saberes, construir conhecimento, ver um sorriso aparecer quando os estudantes conseguem fazer um elo considerado impensável minutos antes. Significa responder às suas perguntas ou fazer face aos seus silêncios.
Sem a formação desses elos nunca teria podido nos idos de 1976, encontrar-me de forma estruturante com um professor inspirador, intuitivo e inovador, Manuel do Rio-Carvalho, um estudioso que, diante de uma pintura ou de um vaso de Rafael Bordalo Pinheiro, tinha o raro dom de conseguir capturar e compartilhar a sua leitura em análises precisas e, quantas vezes, insuperáveis.
Além do privilégio de ter sido sua aluna na Faculdade de Letras de Lisboa, recebi dele o meu percurso profissional quando, recém-licenciada, me convidou para ser sua assistente nas disciplinas de “História da Arte” e de “Introdução à de História do Design” no IADE, onde Rio-Carvalho ministrava aquelas cadeiras desde 1973, sendo a última criação sua – num tempo em que poucos discutiam no nosso país a história e os fundamentos do Design – disciplina a que pude dar continuidade, abrindo o caminho para mais tarde criar a UC de “História do Design em Portugal”, na qual posso, em presença, ver surgir aquele sorriso e lembrar-me do legado de um Professor de excepção.
Maria Helena Souto
Professora Associada do IADE - Universidade Europeia